quinta-feira, 24 de junho de 2010

Metro 3

Há uns dias, no metro, quando estava a olhar para todas as caras sérias dispersas pela carruagem, comecei a interiorizar que aqueles adultos pendurados nos varões foram, em tempos, crianças. Então comecei a vê-los correr, a fazer disparates, aos saltos e aos gritos, com toda a actividade e diversidade característica da infância. Depois regressei à fotografia estática e sorumbática mas não sem, também, continuar a sentir aquelas oliveiras encarquilhadas com um bocadinho, esquecido, de irreverência infantil e então já não as consegui levar a sério.

A divagação não teve o objectivo de desmistificar quem estava à minha frente. Simplesmente aconteceu, como mais um subproduto. Aliás, não houve qualquer objectivo. No entanto, também poderia servir para deixar um qualquer apresentador mais à vontade perante uma audiência, como aquela cena de imaginar a plateia nua. Mais um subproduto.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morreu José Saramago

Reproduzo aqui a mensagem que lhe enviei há uns tempos…

Estimado Sr. José Saramago,

Obrigado. Gostaria de fazer reflectir neste agradecimento a intensidade da gratidão que lhe tenho por partilhar o seu ser através das obras que publica. Ajudou-me muito e vai continuar a ajudar-me.

Com enorme apreço,

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quê?

Instantes captados

...no metro, uma senhora a falar alto ao telemóvel:
- Vou ainda hoje levar-lhe um pão benzido, que foi benzido à minha frente, para você comer durante o dia.

...no ginásio, entre 2 praticantes de musculação:
- Sabes qual é o gajo com mais abdominais do mundo?
- Não.
- É o abdominal homem das neves, HÁ, HÁ, HÁ.
- …

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Burro

Lamento a violência da imagem mas coloquei-a aqui por ser a melhor representação fotográfica que vi do que é estar num buraco.


Impressionou-me por ser um buraco, por ser fundo, por ser um animal, por estar em sofrimento, por parecer um fim, por ser longo, por ser injusto, por ser impossível sair, por não haver nada que se consiga agarrar, por ser claustrofóbico, por estar no lodo, por ser burro.

Resta-me informar que a história teve um final feliz.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Decência e drogas

Li que a formação de seres humanos (em pessoas) decentes poderia ser largamente facilitada através da aquisição e consequente aplicação de competências de percepção/compreensão das emoções próprias (autoconsciência) e dos outros (empatia) e ainda de identificação e escolha de opções em decisões (autocontrolo), até estas ficarem intrínsecas, conduzindo a uma vida (individual e colectiva) com menor sofrimento. Estou a vender uma religião?

Tal como em qualquer outra formação, a idade dos alunos é relevante e nos jovens existe uma profícua janela de oportunidades para uma aprendizagem que poderia ser orientada, por pais ou professores, aproveitando situações do dia-a-dia para explorar e verbalizar emoções ou comportamentos. Em aulas dedicadas a esta temática também se poderia forçar imperceptivelmente o surgimento de eventos, através de jogos e outras actividades, que serviriam simultaneamente como casos de estudo e oportunidades de aplicação das aptidões.

Inventariar alternativas de acção, perceber o que realmente se está a passar com os intervenientes e constatar que muitas vezes a racionalidade está apenas a “dourar” emoções (expostas ou subterrâneas) no momento em que estas ocorrem, sem impor dogmas para as renegar ou deixar de expressar ideias, são capacidades preciosas que abrem portas.

Acredito que, na prática, esta prática permitiria, com habilidade, encontrar decência, [palavrão à escolha].

A susceptibilidade aos “vícios” e a probabilidade de se ficar dependente de uma substância concreta é tanto maior conforme o grau de sofrimento previamente existente, exógeno ou temperamental, associado às emoções negativas que são aliviadas pela substância. Por exemplo, apesar de todas as intersecções, a ansiedade é principalmente aplacada pelo álcool, o abatimento pela cocaína e a ira pela heroína. Para quem já está a pensar em fazer cocktails, lembre-se que os efeitos são temporários e as fragilidades ficam reforçadas, além do resto. É aqui que os dois assuntos do título se relacionam. O da decência tem existência autónoma, [palavrão à escolha].

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Provocação

Vão lá ameaçar o vulcão dos islandeses para honrar indemnizações sobre prejuízos derivados do encerramento do tráfego aéreo na Europa e oiçam a resposta. :)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tabu

Na parte da blogosfera por onde passeio há uns meses, tenho lido sobre uma grande diversidade de assuntos. Partilham-se grandes marcos da vida, acontecimentos do quotidiano, ódios, queixas, elogios, aspectos corporais, notícias, sexo, alegrias, roupa, receitas, factos científicos, política, relações amorosas, familiares, pessoais, laborais e animais. Fala-se de temas íntimos ou públicos para descarregar, registar ou antecipar identificação com alguém que nos leia, em formas explícitas ou encriptadas, em gritos, desabafos, relatos ou explicações, numa abordagem desinibida, favorecida certamente pelo anonimato.

No entanto, há um tópico tabu, apesar de, pelo menos em algumas alturas, também provocar frustrações, ansiedades e desilusões, e também ser traduzível em verborreias. Estou a falar de não se falar na vertente financeira da vida de cada um. O dinheiro não existe. Nada de montantes de vencimento, avenças, aquisições ou dívidas. Ou então aparece é para dizer que aqueles Louboutin de sonho, inalcançáveis, custam €300 ou o preço do gasóleo aumentou outra vez, para €1,179.

Especulo uma caldeirada de justificações para a reserva. Talvez porque o assunto se esgote em si mesmo; é chato; os números favorecem comparações e consequentemente a inveja; é fútil; existe vergonha; é difícil transmitir o contexto laboral; medo de raptos e da criminalidade em geral; pode originar pedinchice; é propiciador de afastamentos, exibicionismo ou miserabilismo; nem os próprios querem pensar no assunto. Enfim, as explicações são inúmeras para este assunto ser considerados ultra-pornográfico, hardcore e ser tratado ao nível dos que parecem colocar em causa a sobrevivência, mesmo a coberto do anonimato.

Vejam lá se não se revêem nas afirmações: a vaca da minha chefe não me aumentou outra vez e fiquei nos €1.200; o Manel faz muito menos do que eu e recebe mais €1.000 só porque é mais velho; nem tenho dinheiro para ir ao cinema; naquela venda de droga ganhei €1.500 e dupliquei o capital investido; este mês recebi €6.700; não sei se o dinheiro chega ao fim do mês; a relação dos vencimentos com o trabalho produzido, por aqui, é completamente aleatória; não quero viver à custa de ninguém; os aumentos anuais são rotativos e alheios ao mérito; o que me safou foi o prémio de €5.000 referente àquele projecto mas mesmo assim é injusto; ganho €5 de comissão por cada cartão de crédito que consigo impingir pelo telefone.

É só. É demasiado sensível. Não tenho mais nada a dizer. Não mexo em dinheiro. Por favor, paguem à minha assistente.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Frank McCourt

Frank McCourt tinha ascendência irlandesa e cresceu na miséria. No vídeo anexo, na apresentação do seu livro de memórias “Teacher man” descreve as condicionantes da sua infância, várias etapas da sua vida e a sua experiência como professor. Revela-se um excelente comunicador e identifica, de uma maneira franca e humorada, o essencial da sua profissão. Faleceu o ano passado com 78 anos. Parece ter tido uma mente aberta.

http://video.google.com/videoplay?docid=8250374906317052977
http://en.wikipedia.org/wiki/Frank_McCourt

quarta-feira, 10 de março de 2010

Catarse

Das poucas vezes que tenho de interagir com o resto da população indígena anónima, como hoje na fila para carregar o passe do metro, verifico a minha inabilidade para esse tipo de actividade. Enquanto esperava, ia observando uns jovens de boné a juntarem-se, à minha frente, a outros e outras que já lá estavam, a dar o golpe como se estivessem na fila da cantina da faculdade, e uns utentes que ditavam ordens à funcionária do guichet, que tem de aturar aquilo o dia todo, sem proferirem um bom dia, um se faz favor ou um obrigado.

Quando estava quase a ser atendido, cresceu-me um impulso praticamente incontrolável e atirei a um rapaz de vinte e pouco anos à minha frente, não sem antes o ter medido e sentir-me pronto e apto de o espancar em segundos:
- Desculpe, o senhor não está atrás de mim?
E ele, surpreendido:
- Desculpe, tem razão.
E eu, ainda em modo de ataque:
- Acho bem, obrigado.

Esta atitude deve ser resultante de mais alguma patologia, potenciada pelos anos no viveiro com o resto dos bichos. O rapaz, coitado, levou com a hostilidade derivada das minhas frustrações acumuladas e da irritação pelo contexto, numa reacção desproporcionada. As emoções são muito contagiosas e espero que ele tenha capacidade de parar a corrente de ira. Da minha parte, registo a falta de autoconsciência e autocontrolo e também de empatia pelo rapaz que só se juntou na conversa com a rapariga à minha frente.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Ensinamento

Quando era mais novo, a minha avó materna referiu-me a importância de uma prática que tinha e que lhe permitia rentabilizar o tempo e as viagens entre as várias divisões da casa através da execução de diversas tarefas em simultâneo. Podia ser tão simples como aproveitar as deslocações para também transportar loiça ou roupa desarrumadas ou mesmo só ir apanhando o lixo espalhado, este último guardado nos bolsos da bata. Hoje dou por mim a fazer algo parecido e lembro-me dela, quase sempre.

Estou-lhe agradecido por ter tomado conta de mim e pela influência no meu crescimento, quando penso sobre isso. No entanto, o que descrevi anteriormente é diferente, é perceptível, não é bem um hábito, quando acontece é uma invocação, é uma renovação. Uma pequena homenagem. Duvido que me vá esquecer de as ir prestando. A minha avó está viva mas tem a saúde debilitada.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Filme a metro(politano) – II

Uns adolescentes na conversa, utilizando cada um deles um palavrão mais sonante que o anterior, em cada frase proferida, por afirmação perante o grupo e perante a audiência, à custa de ilusão de ausência de consequências.

Umas senhoras de meia-idade, com pronúncia do norte, falando com uma certeza só alcançável por quem nunca se questionou na vida, e ainda bem, a emitirem frases para a banal combinação de um encontro, em que cada palavra é uma ruído estridente para o meu ouvido arrogante. As frases são repetidas meia dúzia de vezes, em ciclos, como se o sucesso do reencontro depende-se da gravação, por ondas sonoras de alta frequência, no cérebro uma da outra, da hora, do local e da palavra "pronto", enquanto tento ler o meu livro. E só mais uma vez, para a despedida.

Uma brasileira de decoote enorme, a quem não fiz a vontade de olhar, além da primeira análise, para os suas características físicas. Não por os meus instinto não o solicitarem mas por naquela situação querer ser do contra, não lhe fazendo a vontade de me controlar por aquele mecanismo primário, preferindo não ter o efémero, imaterilizável, desconfortável e discutível prazer de apreciar a robustez dos atributos. Pus-me a ler o meu livro mas ainda pensei no assunto.

Um gajo que quando não está a ler ou a observar, pensa: "Quantas destas pessoas têm blogues, mandam-me beijos e abraços e aqui estão de cara séria?" e vai revendo mentalmente o que lá leu ou escreveu e, às vezes, até se sente suficientemente confortável (quase como abraçado) para conversar (sozinho), sonhando acordado, no silêncio da multidão, sabendo-se compreendido ou julgando compreender, às vezes.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Jornalismo

Há cerca de 20 minutos, na RTPN, a Alberta Marques Fernandes achou importante alertar e repetir gravosamente que o Curral das Freiras está abaixo do nível do mar. Isto após ou em simultâneo com a notícia do enorme temporal na Madeira, dos grandes prejuízos materiais e humanos, das imagens das enxurradas, das declarações do presidente de Câmara de Lobos em que este localizou o Curral das Freiras numa cratera e informou estarem para lá cortados os acessos e as comunicações e ainda do recurso ao Google Earth para ilustração da orografia do sítio. Consultei 5 sites sobre o Curral das Freiras e estes são unânimes em posicionar a povoação a 640 metros de altitude.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mais do mesmo

“…a mais falsa das mentiras é justamente aquela que se serve da verdade para satisfação e justificação dos seus vícios.”
José Saramago
O Ano da Morte de Ricardo Reis

Recycle Bin

- Tudo bem?
- Tudo bem…

- Tudo bem?
- Tudo bem…

- Tudo bem?
- Tudo bem?

- Tudo bem?
- Tudo bem.

- Tudo bem?
- Tudo bem.

Tudo bem. Tudo bem. Tudo bem. Tudo. Tudo. Mesmo tudo? Tudo. Tudo! TUDO!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Esquecimento

Estive a pesquisar sobre o esquecimento. Encontrei artigos sobre a memória, incluindo a tipificação, o processo químico, o mecanismo de reactivação, a imprecisão, as patologias que a afectam ou, numa abordagem menos técnica, a forma de ultrapassar vários traumas, mas muito pouco sobre a desconstrução “normal” da memória.

Tive esta iniciativa motivado pela intuição que as recordações são afixadas e mantidas com uma cola proporcional à intensidade da emoção que lhe está associada no momento da invocação, além do próprio conteúdo também estar condicionado à emoção que o ampara. Posteriormente, encontrei sustentabilidade para o meu pressentimento numa entrevista de António Damásio, “Não existe memória sem emoção”.

No extremo, perante esta dependência das emoções, as recordações têm várias versões com o passar do tempo, misturando-se com as opiniões e as posições, sendo necessário recorrer à psicologia para compreender essas evoluções, relacionando-as com aspectos como a convivência com a consciência, a interpretação de actos passados, o seguimento da ética vigente ou a adaptação a piores condições de vida.

Na “memória colectiva” aumentam as variáveis mas esta perspectiva é mais um factor para colocar em causa o registo da própria história da humanidade. “A história é escrita pelos vencedores” mas assimilada pelas novas gerações, à luz de novas perspectivas, num processo que aparentemente se repete. Hoje conhecem-se actos de manipulação, justificados por várias ideologias, revelados dezenas de anos depois, e quando se olha, ou eu olho, à distância para o passado, considera-se tudo ridículo ou simplesmente como sendo mais um detalhe sobre o assunto, que se mistura com outros pequenos detalhes, um por cada morte associada aos acontecimentos. Oscilo entre o descrédito no tipo de processo, a inocência da confiança, a necessidade de segurança, o alheamento perante a dimensão e inevitabilidade e o interesse da descoberta.

Transpondo para a actualidade, ainda na óptica colectiva, assisto, apático perante o que me cansa, a divergências nos factos das mais banalíssimas histórias jornalísticas, proporcionadas frequentemente pela incompetência ou falta de condições e evidenciadas pelas facilidades de comparação, ou com maior intencionalidade e requinte, à exploração de necessidades humanas e digladiação pela conquista de adeptos por clubes culturais, políticos, ecológicos, desportivos, éticos, religiosos e comerciais. Caricaturalmente, tudo vai funcionando, num sistema que mistura, e coloca à consideração de cada um, o essencial, o central, o secundário e o desperdício, com muitos aspectos de ridículo, à imagem da nossa existência.

Voltando ao esquecimento… estava a introduzir a relevância das emoções nos processos de memorização e esquecimento. O António Lobo Antunes diz há uns anos que vai deixar de escrever, que os últimos livros são melhores que os primeiros, que não sabe se tem mais algum livro dentro de si, que quer inovar e abominaria entrar na decadência que observou noutros autores que tanto aprecia. Questionei-me como conseguirá ele comparar os seus livros não sendo estes de assimilação imediata e simultânea, além dele próprio referir que ao acabar um livro, este deixa de lhe pertencer e não o volta a ler. Como está então apto a compará-los, se apesar de ter estado dentro dos livros na sua génese, também ele, ao longo dos anos, sofreu transformações, aprendizagens e esquecimentos. Deturpando a aplicabilidade do método científico, diria que numa observação se deve manter a variabilidade das condições limitada ao nível mais granular, para já não falar das regras de amostragem e grupos de controlo. Assim sendo, como fazer a tal análise comparativa se quase tudo terá mudado? Pode ter sido só um comentário do ALA mas deixou-me a pensar… Como é possível guardar as intensidades das emoções se já não as sentimos? Pelas recordações dos efeitos, atitudes e contaminações que provocaram na altura?

Recordo-me da minha primeira namorada, de várias ocasiões com ela e até de alguns sentimentos, mas o que já terei esquecido... Tal como não é possível provar que algo não existe, também nós não temos noção da quantidade de dados que vão ficando pelo caminho num processo silencioso, de que só temos percepção por amostragem. Sabemos que nos esquecemos quando voltamos a tropeçar numa informação mas com muitas já não nos cruzaremos. Gradualmente, pessoas, acontecimentos, livros que me disseram muito e deixaram marcas vão-se transformando em notícias de jornal, recordações longínquas, sem intensidade comprável à da altura em que eram classificadas como boas ou más, como num filme a que assisti mas não participei.

Na vertente comportamental, observo nas pessoas que me rodeiam, da minha família, e em mim mesmo perante elas, atitudes e reacções diferentes às que assistia há uns anos. Todos nós fomos mudando, não só pelas transições associadas às doenças, traumas e envelhecimento, mas também pelo cansaço e experiências. As ligações alteraram-se e modificaram a vivência das memórias e vice-versa. Muitas vezes, no dia-a-dia, a minha família não existe, tendo essa informação de ser refrescada com a presença física, como se nessas alturas estivesse no plano (nublado) do Fernando Pessoa n’O Ano da Morte de Ricardo Reis. Gostava que essas pessoas estivessem mais presentes em mim.

Aliás, nos aspectos do quotidiano, o esquecimento imediato é bem perceptível e desertifica o cérebro, como no caso daquela ideia espectacular, que desapareceu no segundo seguinte, tornando este texto mais pobre; ou dos sonhos, a dormir ou acordado, vividos tão intensamente nos primeiros minutos da manhã para logo se irem embora se não forem registados no bloco de notas; ou num acidente, nem sequer gravado, porque estamos demasiado ocupados noutros processamentos para assegurar a sobrevivência; ou nas emoções associadas às descargas hormonais do prazer, logo de imediato sentidas como efémeras.

As recordações estão condicionadas aos sensores que possuímos, como a comunicação escrita ao vocabulário disponível. De 7 em 7 anos renovamos todos os átomos do nosso corpo e algumas recordações e emoções irão certamente com eles, nesse ou noutros processos, juntamente com parte da nossa personalidade, numa permanente aprendizagem e desconstrução, com influência nos nossos estados e actuações. O esquecimento também terá vantagens, como a de não termos presente e directamente disponível o que queremos esquecer ou não sermos esmagados pelos gritos de milhares de recordações, como se estivéssemos a ler, em simultâneo, todos as reflexões sobre pêlos púbicos registadas na blogosfera.

Carl Sagan, no Cosmos, apresentou um calendário de 12 meses onde foi compactada toda a história do tempo e mapeada a evolução do universo, desde o Big Bang até aos registos escritos da história humana, que ocupavam os últimos 10 segundos do ano cósmico, evidenciando a respectiva insignificância. Nesse plano, a luta pela imortalidade parece ridícula, não adiantando a aquisição de lugares no Céu, a gravação de nomes de beneméritos em pedra ou a imortalização através da arte ou de grandes feitos. Todos sucumbirão ao tempo, incluindo as sempre referidas baratas e bactérias, tal já como caíram muitas colunas da antiguidade ou os críticos de Colombo. No entanto, temos essa luta e talvez a grande função da arte seja dignificar o homem ou ser o triunfo possível sobre o sofrimento, a dor e a morte, neste discurso de permanente alternância entre o meu pequeno mundo a desabar e todo o restante pó de estrelas a prosseguir a sua trajectória.

Alguém tem presente, neste momento, o que é o choro convulsivo, a angústia em que não se consegue deitar uma lágrima ou o riso que provoca dores no estômago? Onde estão as músicas com que vibrei, a energia, frustrações e revoltas da adolescência, os livros que não consegui parar de ler, os sítios que visitei e algumas pessoas que amei? Recordo-me intensamente de uma noite de riso descontrolado, agarrado à barriga, na praia com amigos e das gemadas que a minha avó me fazia. Por enquanto.

Estou com frio. Vou comer qualquer coisa e dormir. O básico.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Viagens espaciais

Pergunto-me porque será que quem tem 20 anos insiste em tratar-me por você.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Passado

Contactei uma ex-namorada, com quem já não falava há muitos anos, apesar da nossa separação não ter sido "traumática". Constatei novamente as diferenças de personalidade, principal motivo de termos seguido percursos distintos. Durante todo este tempo, apesar de não o ter manifestado, mantive a preocupação com o seu bem-estar. Foi importante saber que podíamos falar e não existiam problemas pendentes entre nós. Combinámos dizer qualquer coisa de vez em quando.

Inércia

Tenho 9 rascunhos de posts, alguns já com várias semanas, todos por publicar. Estão lá as ideias mas ainda não arranjei paciência para as alinhavar.