quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Today's gonna be a good day

Black Eyed Peas - I Gotta Feeling

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Não resisto

As tentativas de discussão sobre religião batem numa parede que o método científico e a racionalidade não conseguem transpor, a fé, para mim o acto de acreditar sem provas. Descendo à terra, vejo a religião como uma criação humana, para satisfação de necessidades humanas, e as igrejas (instituições) como clubes de futebol que se digladiam pelo maior número de adeptos, ou seja, pela conquista das mentes, com a imortalização e poder subjacentes, usando técnicas de comunicação que se vão renovando, ao ponto dos próprios organizadores da farsa já estarem convencidos, há muito tempo.

Reconheço as vantagens da compilação de guias de valores e da participação na implementação prática desses manuais, em realizações humanitárias e na organização social. No entanto, não aceito que valores humanos sofram uma apropriação por qualquer entidade. Mesmo os guias de procedimentos elaborados não são completamente altruístas e as acções aparentemente filantrópicas têm uma factura que inclui a perpetuação e expansão da mensagem, ou seja, educação e vocação missionária, em linguagem devotamente correcta.

Quem sai da influência dos dogmas religiosos e resiste a lá voltar, mesmo quando o mundo desaba, passa a ver a religião como ridícula, com pequenas historietas manipuladoras (Tens fé? Abençoado sejas! Acreditas sem ver, ao contrário de S. Tomé? És um verdadeiro crente), ou mesmo caricata, se juntar uma dose de desrespeito pelas pessoas e observá-las como cobaias burladas. A distinção, em termos teológicos, entre religiões, seitas e o bruxo de vão de escada, torna-se artificial, com diferenças apenas nos anos de elaborações, pois onde anteriormente os mensageiros prometiam e ameaçavam agora invocam simbolismos. E estas deduções passam a ser tão inatas como a naturalidade da crença para os inundados pela fé. Depois, uns e outros indignam-se, achando incompreensível que o lado oposto não consiga ver a luz, tão apelativa… e ofuscante. E dizem "eles não percebem". E tentam convencer-se mutuamente... enquanto não se fartam.

Participando nesta never ending story, para mim, o conceito de Deus não resiste a perguntas, entre outras, tão básicas como… Porque é que, para a maioria da homens, o(s) deus(es) venerados são definidos pelo local que habitam e/ou a religião dos pais? A religião é hereditária ou geográfica? Entre cristãos, judeus, mórmones, testemunhas de Jeová, muçulmanos, cientologistas, budistas, wiccas e hindus, quais são os enganados? Ou também existe uma teoria unificadora, sem ateus? Há espaço para todos? Espero bem que sim.

Acho que a religião é "genética". Porque é bom acreditar, ter referenciais, poder recorrer a algo que tudo consegue, perante a diversidade de acontecimentos que nos podem esmagar (falando delicadamente), ou estar confortável, julgando que isto tudo não anda “ao Deus dará" (lol), que não caminhamos por cá, no bem bom ou no bem mau, e depois, puff, nada, parecemos, desaparecemos, como qualquer outro animal. Agora, até é admissível cada um ter a sua religião. I want to believe. Estou "perdido".

Sei que este texto incomoda os crentes (se fosse escrito por alguém conhecido ou credível) assim como a crença me incomoda. Admito que tenha sido impreciso em alguns aspectos mas acho que descrevi a ideia geral. Admito que falhe a respeitar, pessoas, neste caso. Aliás o verbo, pelo que tenho lido e ouvido ultimamente (umas dezenas de anos) também já me incomoda. Já martelei em parafusos e bati em pregos com chaves de fendas e por vezes até funcionou. O António Lobo Antunes disse recentemente que, se partilharmos com os amigos 3 ou 4 cores do arco-íris, já é bom.

Vamos em paz e que o amor nos acompanhe.

Disposição

Sem menosprezar as virtudes de outras formas de interacção, se tivesse agora de escolher a disposição ideal para uma conversa a dois, independentemente do género do interlocutor, esta seria num banco de jardim, ou outro semelhante, com tempo ameno, lado a lado, quase sempre a olhar um espaço amplo em frente, quase só orientado à fluidez ou intensidade dos pensamentos e das respostas, que soariam como um eco autónomo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bola

Já não suporto ouvir “Este fim-de-semana, o Braga vai-se foder”. Não só pelas alternativas sintácticas e semânticas existentes, porventura menos grosseiras, mas porque, bolas, o tema é sempre o mesmo, a bola.

Às vezes, gosto de ver resumos com os melhores lances. Reconheço as vantagens da prática desportiva nas camadas jovens, ou do exercício, ou do convívio. Concordo que só vê quem quer. Aceito os milhões das transferências (o NIB é …). Admito a utilidade de extravasar tensões.

Não obstante, estou farto de acertar no período de 15 minutos que os jornais televisivos lhe dedicam por dia, de procurar uma música na rádio e apanhar com o som de um relato, quase tão irritante como o do despertador que tinha há 10 anos. Do futebolês, dos treinadores de bancada e dos jogadores de sofá. De “embates”, onde se confunde um reles jogo com a colisão com um iceberg no Atlântico Norte. De “confrontos”, onde se confunde o reles dito com as acções dos pequenos arruaceiros que por lá deambulam. Da espiral, qual tornado em câmera lenta, que tudo vai envolvendo e cuspindo, como outros que por aí andam. De 3 jornais desportivos de grande tiragem. De concorrer com a meteorologia como desbloqueador de conversa. De águias, leões, dragões, panteras e o resto da bicharada. Da apropriação do substantivo.

“Vocês sabem do que estou a falar”.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sujidade

Com a preocupação de manter a assiduidade e o nível das publicações deste blog, estava a tentar encontrar um tema de escrita. Ocorreram-me assuntos que me tocam, como a solidão, a liberdade, a religião, os estados de alma ou as relações inter-pessoais mas resolvi escrever sobre as senhoras da limpeza.

As de modelo empresarial, não as domésticas. O exército mercenário que se levanta de madrugada, nos subúrbios, para invadir cedo os escritórios, pilhar outros anonimamente no final da tarde e ainda intercalar com umas incursões em casas particulares ou públicas. Caixas negras que emitem ou reflectem cumprimentos automatizados e impessoais. Algumas, na versão mais barulhenta, arrastam sacos de plástico enormes, na repetição do quotidiano que transforma quase tudo em normal e inquestionável. Uma profissão onde o arco-íris transnacional e multi-cultural tem cores mais vivas.

São acusadas de redundância, por limpar o que está limpo e deixar sujo o que sujo está e são as inevitáveis culpadas, ainda antes de acusadas, de chamadas telefónicas internacionais não autorizadas, valores desaparecidos e intoxicações alimentares, em julgamentos sumários influenciados por preconceitos que provam os actos por ocasião, ganância ou despeito. Incomodam quando limpam, não limpam ou perguntam se podem limpar. E possuem um único pano húmido, sendo este passado por cima de tudo: móveis, monitor e a garrafa de água.

Recentemente, por aqui, o contingente foi reforçado com contratações adicionais no âmbito da prevenção da gripe A. Nas superfícies adjacentes aos botões dos elevadores e às maçanetas das portas já se nota o seu monótono trajecto diário.

Nunca me apercebi de homens a exercer esta profissão sexista. Quando existem, esses especializam-se e seguem outra carreira, a limpar vidros, por exemplo, contribuindo para a discricionariedade. Ao ponto de se considerar que os senhores da limpeza são os que se chamam Toninho ou Cáló e assaltam vivendas durante a ausência dos donos.

Presumo que sejam instruídas a incomodar ao mínimo os restantes funcionários. E arrastam-se num solitário silêncio. No entanto, algumas, infractoras e revoltadas, falam alto nos corredores, fazem cara de poucos amigos, e acho que se acham demasiado boas para esse tipo de trabalho. Depois calam-se perante a presença de espectadores enigmáticos e guardam a expansividade para outros ambientes, mais domésticos. Antigamente, juntavam-se nas escadas a fumar, agora não se juntam na rua. Vê-se que algumas estão cronicamente cansadas e gastas.

Quando, há uns tempos, puxei conversa com uma senhora da limpeza, esta apresentou-me a sua interpretação das relações profissionais e uma versão própria das vantagens e inconvenientes da contratação directa pela empresa versus o recurso ao outsourcing.

Terminei. Agora, ao reler o texto, este soa-me a generalista e elitista. Apesar de ter tentando manter um tom respeitador e há muitos anos afirmar que as pessoas não devem ser identificadas pela respectiva profissão e eu não o gostar de o ser, fiz esta exposição redutora. Na prática, não me consigo integrar, nem converso, com nenhuma senhora da limpeza, como se fossemos assim tão diferentes e não tivéssemos temas comuns. Só mesmo na presença de catástrofes é que somos todos quase iguais. E questiono-me porque apresentei mais esta máscara, que gostaria que fosse tendencialmente transparente, e questiono-me porque escrevi mais esta frase.

Afinal, só não falei de religião. Por opção.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Filme a Metro

Personagens:
O cego de pé, à espera do comboio, que recolhe a bengala, para a distender quando o comboio chega;
O jovem que escreve um SMS com os dois polegares, como se estivesse a jogar numa consola;
O rapaz, filho de um invisual, que baixa os olhos quando me apanha a olhar para o pai, como se carregasse o mundo aos ombros;
A mulher sentada, que o puxa o decote para cima quando um homem se posiciona de pé junto ao seu banco;
Os colegas que se encontram, cumprimentam, falam brevemente e depois não têm conversa para o resto da viagem;
Os que falam efusivamente de microbiologia;
Os de olhos fechados; Os que dormem;
Os de olhar vazio;
Os que lêem livros, revistas, jornais gratuitos e a leitura dos outros;
Os da tarde, os da manhã;
Os que desviam o olhar, os que desviam o olhar do reflexo da janela;
Os observadores;
Os outros;
Os que lá estão e passam despercebidos.

Um ruído silencioso.
Um silêncio compreensível.

sábado, 17 de outubro de 2009

Piada da piada

No ginásio, um gajo grande, da musculação, depois de puxar ferro, diz para outro: - Amanhã vou jogar xadrez de competição.
O outro responde: - Prefiro damas. E ri-se.
O primeiro ri-se passado um bocado.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Desassossego

Constato que quando estamos confortáveis com a vida vamos ficando acomodados e deixamos de apre(e)nder. No entanto, o mundo não se compadece com o comodismo e arranja uma forma de nos ultrapassar e às vezes nos esmagar. Depois vem o sofrimento, a instabilidade, a procura de ajuda, a mudança de interesses, a sensação de termos estado adormecidos.

Receio que, se nos voltarmos a equilibrar, se entre novamente no laxismo. Será que existe um equilíbrio, onde a memória, o vento na cara ou outro estímulo qualquer nos alimente a procura, o querer mais, sem ser necessário ir à praia durante a noite assistir a uma tempestade? Sem fazer como os artistas que procuram estar em carne viva (não gosto do termo mas aqui transmite o pretendido) para continuarem a produzir? É necessário estar mal para procurar ser melhor, para estar receptivo, para observar, para arriscar?

Este post foi escrito na primeira pessoa do plural apenas por pudor. Não quero estar a generalizar. E depois de ler uma entrevista do António Lobo Antunes, que cada vez mais associo a desassossego. Retive várias frases mas acho que o objectivo deste espaço é ser pessoal. Se estiver constantemente a citar deixa de o ser. Aqui está o link.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dignidade

Gostava de escrever um post sério, sobre a velhice, os lares, a altura em que o corpo já não obedece ou o cérebro já não transmite ordens. Uma homenagem a quem cuidou de nós. Um lamento por nunca fazer o suficiente, por não querer, por não ter forças. De estar lá, querer chorar e guardar para depois. E depois já não o fazer, por não conseguir.

Além da dignidade que as condições materiais conseguem proporcionar nessas alturas, a dignidade está e vem nas vidas que essas pessoas passaram. E nas empregadas que conseguem transmitir boa disposição. E num velhote, com dificuldades, às 19.00, a ajeitar com a bengala e um sorriso, o suporte para os pés da cadeira de rodas de uma senhora e esta agradecer-lhe acenando:
- Obrigado, Sr. C. Boa noite.

Foi este o post possível.

Nota: O José Saramago disse, num dos seus livros, que os velhos sabem muito mas estão sempre calados porque ninguém lhes pergunta nada.

Esperança

Há dias, poucos, em que vou à janela antes do nascer do Sol, vejo o horizonte recortado com as silhuetas da paisagem urbana, ainda negra, e o céu pouco nublado com aquelas tonalidades de laranja que nunca poderão ser representadas em todo o seu espectro no gradiente de um LCD . Então, sinto que os meus problemas estão muito distantes e tenho esperança num bom dia.

Nota: Dirão os mais cépticos que, no futuro, os LCD conseguirão representar os gradientes de forma indistinguível aos ocorridos na natureza, na perspectiva do olho humano. Assumam que me refiro ao fenómeno original, sem os filtros impostos pelas restrições do mecanismo de visão. A observação pode existir sem o observador? E com este comentário quase se estraga um post profundo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Este blog estava a ir tão bem

O Homem, que tanto “apurou” a espécie canina, teve de criar uns seres em que os cócós ficam agarrados aos pêlos do rabo do cão. Num único dia, no espaço de 1 hora, vi 2 donas a limpar os respectivos dos respectivos. Os actos ficam com quem os pratica.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Comments

Desculpem a lamechice mas alguns comentários que leio aos posts publicados são tão adequados ao texto original que a sequência não merece ser “estragada”, nem sequer com agradecimentos.

Parece que tudo se encaixa e que qualquer novo contributo teria de estar a um nível já está próximo da perfeição. No entanto, pode sempre aparecer uma nova peça também ela surpreendente. Realmente as pessoas complementam-se.

É certo que cada um interpreta no sentido para onde está virado e também é por isso que este blogue tem o nome que tem.

Quando em tempos escrevi a um escritor para lhe expressar a minha gratidão, optei apenas por lhe transmitir um profundo obrigado pela obra e pela ajuda pois, apesar da tentação, nunca lhe poderia retribuir igualando a profundidade, beleza, clareza, facilidade… das ideias e a forma de as materializar (na escrita). Como já disse o António Lobo Antunes, alguns escritores “pegam-se” e surge a tendência para os imitar.

Obrigado!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Banha da cobra

Andei a espalhar, porque me contaram e achei curioso, que era possível fazer gel de álcool, daquele que se vende a €5 nas farmácias em garrafas de 100 ml, utilizando folhas de gelatina, água e álcool. Afinal, através de uma investigação minuciosa (30 segundos no Google), cheguei à conclusão que não funciona, a gelatina não se mistura com álcool. Contribuí para disseminar uma mentira. Visualizo uma imagem com um rio de grande caudal de água amarela, imparável, a ser alimentado por inúmeros pequenos afluentes.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ao que se chega

Ontem sonhei com o primeiro-ministro! Eu estava numa aula de Alemão (que não frequento), ele entrou, corrigiu uma aluna sobre um erro insignificante (que afinal era uma variação correcta) para se “mostrar”, interrompeu-me quando eu queria aproveitar a oportunidade para lhe fazer uma pergunta importantíssima (e fez-me esquecer da pergunta) e ainda perguntou ao Manuel Alegre (que apareceu não sei de onde) quando tempo antes das eleições presidenciais é que um candidato presidencial se deve abster de participar em confrontos políticos (não era uma pergunta, era uma oferta).
Acordado, nem sequer tenho as opiniões que estão aqui reflectidas mas o meu subconsciente falou e é curioso a forma como aquilo com que fomos bombardeados é recolhido, misturado e depois despejado assim.

Trânsito



Ontem, no final da tarde, o trânsito para sair de Lisboa estava caótico. Entre toques e obras, nada andava. E ainda não começou a chover… O interior do automóvel é o mundo de milhares de pessoas durante horas, todos os dias.