As tentativas de discussão sobre religião batem numa parede que o método científico e a racionalidade não conseguem transpor, a fé, para mim o acto de acreditar sem provas. Descendo à terra, vejo a religião como uma criação humana, para satisfação de necessidades humanas, e as igrejas (instituições) como clubes de futebol que se digladiam pelo maior número de adeptos, ou seja, pela conquista das mentes, com a imortalização e poder subjacentes, usando técnicas de comunicação que se vão renovando, ao ponto dos próprios organizadores da farsa já estarem convencidos, há muito tempo.
Reconheço as vantagens da compilação de guias de valores e da participação na implementação prática desses manuais, em realizações humanitárias e na organização social. No entanto, não aceito que valores humanos sofram uma apropriação por qualquer entidade. Mesmo os guias de procedimentos elaborados não são completamente altruístas e as acções aparentemente filantrópicas têm uma factura que inclui a perpetuação e expansão da mensagem, ou seja, educação e vocação missionária, em linguagem devotamente correcta.
Quem sai da influência dos dogmas religiosos e resiste a lá voltar, mesmo quando o mundo desaba, passa a ver a religião como ridícula, com pequenas historietas manipuladoras (Tens fé? Abençoado sejas! Acreditas sem ver, ao contrário de S. Tomé? És um verdadeiro crente), ou mesmo caricata, se juntar uma dose de desrespeito pelas pessoas e observá-las como cobaias burladas. A distinção, em termos teológicos, entre religiões, seitas e o bruxo de vão de escada, torna-se artificial, com diferenças apenas nos anos de elaborações, pois onde anteriormente os mensageiros prometiam e ameaçavam agora invocam simbolismos. E estas deduções passam a ser tão inatas como a naturalidade da crença para os inundados pela fé. Depois, uns e outros indignam-se, achando incompreensível que o lado oposto não consiga ver a luz, tão apelativa… e ofuscante. E dizem "eles não percebem". E tentam convencer-se mutuamente... enquanto não se fartam.
Participando nesta never ending story, para mim, o conceito de Deus não resiste a perguntas, entre outras, tão básicas como… Porque é que, para a maioria da homens, o(s) deus(es) venerados são definidos pelo local que habitam e/ou a religião dos pais? A religião é hereditária ou geográfica? Entre cristãos, judeus, mórmones, testemunhas de Jeová, muçulmanos, cientologistas, budistas, wiccas e hindus, quais são os enganados? Ou também existe uma teoria unificadora, sem ateus? Há espaço para todos? Espero bem que sim.
Acho que a religião é "genética". Porque é bom acreditar, ter referenciais, poder recorrer a algo que tudo consegue, perante a diversidade de acontecimentos que nos podem esmagar (falando delicadamente), ou estar confortável, julgando que isto tudo não anda “ao Deus dará" (lol), que não caminhamos por cá, no bem bom ou no bem mau, e depois, puff, nada, parecemos, desaparecemos, como qualquer outro animal. Agora, até é admissível cada um ter a sua religião. I want to believe. Estou "perdido".
Sei que este texto incomoda os crentes (se fosse escrito por alguém conhecido ou credível) assim como a crença me incomoda. Admito que tenha sido impreciso em alguns aspectos mas acho que descrevi a ideia geral. Admito que falhe a respeitar, pessoas, neste caso. Aliás o verbo, pelo que tenho lido e ouvido ultimamente (umas dezenas de anos) também já me incomoda. Já martelei em parafusos e bati em pregos com chaves de fendas e por vezes até funcionou. O António Lobo Antunes disse recentemente que, se partilharmos com os amigos 3 ou 4 cores do arco-íris, já é bom.
Vamos em paz e que o amor nos acompanhe.
Reunião de (con)domínio
Há 8 meses
Sabes que mais?
ResponderEliminarFundamental é mesmo o amor, o respeito e a tolerância, independentemente de credos, raças, línguas, simpatias clubísticas ou convicções políticas.
Parafraseando-te:
Vamos em paz e que o amor nos acompanhe.
E acrescento:
Graças a Deus.
Obrigada pela visita ao meu blogue. Sou crente, e o teu texto não me incomoda mesmo nada. Respeito totalmente as opiniões dos outros e como dizes, não precisamos todos de concordar em tudo :)Fui abençoada com a graça de Deus, que é a fé. Porque se trata de um graça, ou dádiva...pois constato que nem todos a possuem... e tenho pena de quem a não tem e não compreende quem tem. Pois não se trata de compreender... como dizes e bem,não é racional...sente-se. Sente-se a olhar para a natureza... ou para o milagre da vida... creio em Deus, na minha interpretação de um Deus Universal, mas não tenho religião...
ResponderEliminarbeijo
Para mim, a dificuldade surge mesmo na transposição do conceito de tolerância para a prática. Tenho de trabalhar nisso e tentar olhar mais para o que nos une do que para o que nos divide.
ResponderEliminarEva Gonçalves,
Agradeço a visita e as tuas palavras. Voltarei ao teu "cantinho".
Fizeste bem em "não resistir" e falar sobre este assunto... E partilho da opinião do Demóstenes: "Fundamental é mesmo o amor, o respeito e a tolerância, independentemente de credos, raças, línguas, simpatias clubísticas ou convicções políticas".
ResponderEliminar"I want to believe", faz-me sempre lembrar os X Files...
ResponderEliminarEu sou o que se chama habitualmente, espiritual, mas não religiosa. Acredito em muitas coisas, mas não acredito na religião católica, nem nas suas práticas, até me chegam a fazer uma certa comichão, como algumas pessoas inteligentes se revêem em ideias tão bizarras como algumas que aquela igreja prega.
eva, foi irresistível...
ResponderEliminarKin, a frase também foi utilizada como uma referência ao X-Files, para ajudar no que estava a expor sobre a religião e a necessidade de se acreditar em algo. Quando consigo, gosto de utilizar frases com várias interpretações e neste caso até tinham um sentido aproximado!
Conheço o desconforto de que falas em relação às práticas e rituais e tentei retratá-lo. No entanto, também acredito ou provavelmente "I want to belive" na co-existência e complementaridade das pessoas.
Acho que a minha religião, ou incoerência, é a razão ou a racionalização, apesar de saber que há aspectos da vida que não são, ou não capaz de racionalizar… como quando os vários "eus" vão alternando na predominância.
Entrevista com ALA:
ResponderEliminarhttp://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=243439
Abraço
Demóstenes,
ResponderEliminarObrigado.
Uma mistura de "um artigo sobre" com "uma entrevista com" ALA, que em cada frase proferida transmite uma profundidade imensa, inalcançável... mas pode ser impressão minha.
Transcrevo só um momento de humor:
"Quantos prémios ganhei importantes? Mais de 20, fora os que recusei. Ainda agora, disseram-me que tinha ganho o grande Prémio do Canadá e por momentos pensei que era um piloto de Fórmula 1."
Abraço
Acho que bates no ponto quando perguntas porque é que, para a maioria das pessoas, a religião que professam é a mesma dos pais. Para mim é esse o ponto fulcral que nos define enquanto crentes (de uma ou outra religião) ou não-crentes, seja por aceitação ou por rejeição do que nos é incutido por quem nos educa.
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