Das poucas vezes que tenho de interagir com o resto da população indígena anónima, como hoje na fila para carregar o passe do metro, verifico a minha inabilidade para esse tipo de actividade. Enquanto esperava, ia observando uns jovens de boné a juntarem-se, à minha frente, a outros e outras que já lá estavam, a dar o golpe como se estivessem na fila da cantina da faculdade, e uns utentes que ditavam ordens à funcionária do guichet, que tem de aturar aquilo o dia todo, sem proferirem um bom dia, um se faz favor ou um obrigado.
Quando estava quase a ser atendido, cresceu-me um impulso praticamente incontrolável e atirei a um rapaz de vinte e pouco anos à minha frente, não sem antes o ter medido e sentir-me pronto e apto de o espancar em segundos:
- Desculpe, o senhor não está atrás de mim?
E ele, surpreendido:
- Desculpe, tem razão.
E eu, ainda em modo de ataque:
- Acho bem, obrigado.
Esta atitude deve ser resultante de mais alguma patologia, potenciada pelos anos no viveiro com o resto dos bichos. O rapaz, coitado, levou com a hostilidade derivada das minhas frustrações acumuladas e da irritação pelo contexto, numa reacção desproporcionada. As emoções são muito contagiosas e espero que ele tenha capacidade de parar a corrente de ira. Da minha parte, registo a falta de autoconsciência e autocontrolo e também de empatia pelo rapaz que só se juntou na conversa com a rapariga à minha frente.
#naoesquecer
Há 7 anos