sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Lar

Tenho uma avó internada num lar. Quem já visitou um lar estará familiarizado com os agrupamentos de pessoas, juntas mas distantes, a ignorar o som alto da televisão, com extremas dificuldades físicas e neurológicos, e os olhares, ausentes ou excessivamente intensos, e algumas funcionárias de coração enorme, e o passar dos minutos, naquelas paredes.

No entanto, quando vou visitar a minha avó e chego de carro, a primeira imagem que absorvo é a dos dois ou três bancos existentes no espaço localizado nas traseiras do edifício, um lugar ajardinado, razoavelmente aprazível, com sol, alcançável através de um percurso com umas dezenas de metros. Essa fotografia capta as múltiplas limitações a que estão sujeitos os residentes e as minhas reflexões sobre o assunto. Os bancos estão sempre vazios.

8 comentários:

  1. Entre as limitações físicas e a falta de vontade que costuma apoderar-se dos velhotes nos lares... o resultado são bancos vazios. É uma fotografia bem elucidativa.

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  2. conheço bem esses olhares de que falas... ausentes e no entanto, por vezes, excessivamente (é mesmo essa a palavra, excessivamente) intensos...

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  3. Noutra perspectiva, o lugar aprazível passa a ser distante, isolado, arriscado, perdido, ventoso, estorvador e desmoralizante. E representa a ausência.

    Sinto os olhares excessivamente intensos como apelos, manifestações possíveis da vontade que resiste. Outras vezes, parece-me espontaneidade não filtrada, como nas crianças.

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  4. Tudo o que descreveste senti-o e afligia-me... Talvez por isso sempre que ía visitar a minha Avó materna (foi ela que quis ir para o lar), 2 vezes por semana, fazia questão de a levar a passear fora do lar, não por mim, mas por ela.

    Beijinho

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  5. Conheço bem esses olhares, e também já me questionei porque estão sempre vazios os bancos do jardim....

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  6. como é possível que tantos anos de vivência, experiências, amor, se transformem nesse vazio no olhar...

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  7. É incrível como certas "imagens exteriores" podem tão bem reflectir o que se passa no interior das pessoas. Como esses bancos vazios podem representar o vazio que a solidão e, de certo modo, a impotência por não poderem voltar a ser o que um dia foram, deixa no interior de cada um deles...

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  8. Primeiro, um obrigado sentido das palavras. Partilhamos dores semelhantes, portanto.

    Um abraço,

    V.

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